Para os homens que fizeram de mim o que eu sou


Um beijo muito especial para o meu pai que me delineou como ser humano, com traços largos do tamanho das suas expectativas, certezas e afecto.
E para o pai dos meus filhos que me pintou com as cores profundas e secretas da plenitude de uma mulher.
Obrigada pelo vosso amor.



Fruto


Abriu-se tua carne, e pronto!
Eis, noutra vida, a nossa entregue.
E eu olho nos meus braços, tonto,
Este mistério que só segue...


Como, da hora que te deste
Ao beijo menos calculado,
Este prodígio veio, este
Pouco de vida – agora nado?


Carne acabada de nascer,
Fruto de nós dois oriundo,
Há-de levar – se Deus Quiser...-
O nosso amor ao fim do mundo.


Alberto de Serpa



O texto que se segue é de um dos blogues mais bonitos que já vi: Um ano de ti, o diário de um pai durante o primeiro ano de vida do seu filho. Imperdível. Deixo aqui alguns excertos que não fazem jus à obra completa. Visitem http://www.umanodeti.blogspot.com//.


“Nascer não é bonito. É doloroso. É intenso. É traumatizante para todos nós. Porque a dor para a mãe é brutal – e acredito convictamente que, se os homens tivessem filhos, eu entraria em estado de choque e morreria no parto. Para o pai é frustrante assistir a tanta dor e não conseguir ou poder fazer nada para partilhar ou aliviar essa dor. Depois é a ansiedade, o cansaço. Era o terceiro dia consecutivo acordado, o meu próprio sentido de equilíbrio começava a estar afectado. Ao mesmo tempo, nascer é lindo porque é único. É o início, o primeiro momento de todos os momentos. E estive lá, sempre ao lado da tua mãe, sempre, mesmo quando pensei que tudo aquilo era demasiado para mim, mesmo quando já só queria dormir e não me importava se dormiria na cadeira ou no chão do quarto, mesmo quando o sangue começou a tingir os lençóis duma forma que parecia não parar e fiquei cheio de medo por vocês.

Umas horas depois, quando ao fim do dia me deixaram ver-vos, achei-te mais engraçadinho. Ao outro dia, achei-te lindo. E, todos os dias, superas as minhas expectativas, já não em relação ao que imaginava mas pelo ser que és.

(...)

Ao longo do ano que passou, relatei neste blogue a vida de um filho pelos olhos do pai, do meu filho. Como todos vocês sabem, o objectivo foi muito claro desde o primeiro instante: escrever-lhe, a ele, para ele, o seu primeiro ano de vida.

Rapidamente me apercebi que só com a “pressão” típica de um blogue conseguiria levar esse objectivo a bom porto. Sem essa “pressão” não haveria esforço e rapidamente este ano se resumiria a meia dúzia de notas dispersas, vagas e, no fim, perdidas para sempre. Duma forma talvez egoísta, precisava de vocês para cumprir o meu objectivo.

(...)

Sei apenas que, olho para ti, e continuo a ver a cabecinha tão redonda e o olhar malandreco com que nasceste, olho para os teus dedos compridos e fininhos entretidos no magicar de uma engenhoca qualquer e recordo a primeira vez que se fecharam em torno do meu indicador, agarro-te pelos incontáveis motivos que nos preenchem a actividade dos dias e revejo-te recém-nascido, acabado de nascer, ainda mal limpo e embrulhado num cobertor, nos meus braços, pela primeiríssima vez, nos meus braços. Tudo isto acabará por se esbater nesse tempo brutal que teimo em parar, nesse tempo injusto na sua brevidade. Sei que tudo passa, tudo se esquece, tanto o bom como o mau, e a vida nada mais é senão uma alegria breve. Mas como eu gostaria de fixar esta brevidade para o resto das nossas vidas! Hoje sinto-me exactamente assim, como se diz popularmente, com o coração nas mãos. Ou então, apenas sentimental e dramático.

Um ano de ti. Como é possível já ter passado um ano? Ao olhar para trás e ver o quanto escrevi de nós, penso que tudo ficou por ser escrito. É claro que houve uma imensa inocência minha ao pensar que escrever-te fixaria para sempre a memória de todas as coisas. Contudo surpreendo-me pelo pouco de ti que consegui efectivamente captar nestas notas. Um ano de ti, tão pouco de ti. Porque não existem ainda todas as palavras que um pai precisa para transmitir a essência de um filho ou o espanto da sua própria paternidade. "

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