Bruxas sem feitiços



Ilustração de Jack Unruh.




Nem só de fadas vive o nosso imaginário colectivo. O facto de existir um défice de fadas-madrinha fá-las até cair no esquecimento. Já as bruxas, há quem diga que não acredita nelas, mas que elas existem, existem. E descolam-se do nosso imaginário para, despudoradamente, assumirem contornos reais e marcarem presença entre os simples mortais. Não comportam, no entanto, a comicidade folclórica e o colorido infantil de uma vassoura, um caldeirão e uma verruga no nariz adunco.

Quem não se lembra da história da Branca de Neve, cuja madrasta, torturada pela sua própria imagem, invejava a beleza, a felicidade inocente, as potencialidades de sucesso, até as pequenas alegrias da enteada?


Algumas são as bruxas (e aqui o feminino é redutor porque se encontram pessoas com características semelhantes no universo masculino) que povoam o nosso quotidiano, na família alargada, no grupo de supostos amigos e sobretudo no trabalho.


São aquelas personagens que escondem a inveja e a malquerença entre sorrisos, falsas manifestações de afecto e até admiração, que entortam o nariz e tolhem a alma perante a felicidade alheia, as conquistas dos outros, por mais pequenas ou triviais que sejam.


O sucesso dos outros incomoda-as, provoca-lhes a náusea da frustração latente, da auto-comiseração, dos afectos mal-resolvidos. Vestem-se de negro por dentro, poluídas pelo ciúme, pelo rancor e pela cobardia. Despontam nelas pontinhas de línguas viperinas a cuspir um venenozinho incómodo e corrosivo.


Mas não é delas que rezam as histórias e perduram os feitos. Nem sequer é delas a felicidade que não sabem ter.

Quanto às princesas incautas ou prudentes deste mundo, inocentes ou vividas (também se aplica aos cavalheiros honrados), deixem os cães ladrar que a caravana passa... para esta corja descontente nada oprime mais que a tranquilidade indiferente e a felicidade impassível.

Sejamos felizes! Guardemos a tranquilidade para saborear um livro e os sorrisos dos nossos filhos!

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