Estudo da Universidade do Minho revela que iustração infantojuvenil em Portugal está em crescente afirmação

Ilustração: Jaime Lopes


Tese de Doutoramento de Gabriela Sotto Mayor, na UMinho, fez o retrato da área da ilustração infantojuvenil na última década.

A ilustração infantojuvenil em Portugal está em clara afirmação, graças à abundância de edições, de profissionais e, em particular, à qualidade dos trabalhos, que apostam na redução da componente verbal a favor da ilustração. A afirmação é de Gabriela Sotto Mayor, que acaba de se doutorar na Universidade do Minho com a tese “Ilustração de livros de Literatura Infantojuvenil em Portugal (2000-09): tipificação, tendências e padrões de recetividade do público-alvo”.

Gabriela Sotto Mayor analisou as 89 obras distinguidas na última década no Prémio Nacional de Ilustração (com o prémio máximo, menções especiais e recomendações). Em paralelo, levou as dez obras do prémio máximo a um grupo de crianças, para perceber o seu ponto de vista recetivo e crítico. Com ênfase na componente visual, as crianças identificaram sentimentos, questões anatómicas, cores e diversos modos de representação, por exemplo.
Este estudo, raro na área, concluiu que assistimos a uma diminuição do texto verbal a favor da ilustração, maior investimento em elementos paratextuais (“todas as partes do livro contam sempre algo”), a implicação do designer nas várias opções gráficas, concedendo-lhe o estatuto de autor, e a proliferação de edições de tipo livro-álbum. “Estas tendências traduzem o crescente estatuto da ilustração na literatura infantojuvenil e no panorama editorial”, salienta a cientista do Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC) da UMinho. O jogo e a relação interdependente entre as linguagens verbal e visual ajudaram a elevar a condição da ilustração enquanto arte e comunicação, realça. “Se no passado o papel da imagem nos livros ilustrados era decorativo, hoje, à semelhança da linguagem oral e escrita, ganhou uma grande abrangência conceptual e semântica”, continua.

Gabriela Sotto Mayor concluiu também, “com alguma surpresa”, que os autores continuam a preferir técnicas manuais mistas, com frequente recurso ao guache, à aguarela, ao acrílico e ao lápis de cor – e mesmo as técnicas digitais tendem a ser usadas para simular técnicas manuais mais tradicionais. Também curioso foi o debate gerado sobre personagens de características físicas muito distintas, como cabeças grandes e mãos e pés pequenos, que dividiu os leitores. A investigadora considera a recente proliferação de autores “uma mais-valia” para dinamizar o setor. Em particular, destaca os trabalhos de Alain Corbel, André Letria, Bernardo Carvalho, Danuta Wojciechowska, Gémeo Luís, João Caetano, Madalena Matoso, Marta Torrão e Teresa Lima.
Sobre a autora deste estudo 
Gabriela Sotto Mayor nasceu no Porto há 38 anos e é ilustradora de literatura infantojuvenil. Fez o doutoramento em Estudos da Criança - Comunicação Visual e Expressão Plástica na UMinho, o mestrado em Práticas e Teorias do Desenho e a licenciatura em Artes Plásticas - Escultura, ambos pela Universidade do Porto. Ilustrou mais de vinte livros, participa em conferências em vários países e realiza ainda exposições e workshops para crianças e adultos. Centra a investigação na ilustração infantojuvenil, na recepção leitora e na promoção de competências de literacia visual.

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