Era uma vez um rei muito chato...até que aparece um gato...




"Havia um rei muito chato. Fazia sempre tudo da mesma maneira. “Convém avisar que um rei pode ser lei. (É só trocar o R pelo L.)”, escreve-se logo no início.

Segue-se a descrição de algumas rotinas de el-rei Dom Chato. “Calçava sempre a bota direita antes de calçar a esquerda. Penteava-se sempre à mesma hora, sempre com o risco para o mesmo lado. Escutava sempre a mesma sonata triste no piano. E nunca, nunca fazia as coisas de modo diferente.”

Hum! "Aqui há gato"!

É este o nome de um livro que nasceu de uma forma pouco convencional.

Primeiro foram criadas as ilustrações e só depois o texto. Autor e ilustradora vieram ao estúdio do PÚBLICO ler-nos esta história e assim aumentar a nossa galeria de Livros para Escutar.

“Quis transformar uma coisa monótona, os códigos de barras, em imagens criativas”, contou ao PÚBLICO a ilustradora brasileira Renata Bueno.



Criou então uma série de ilustrações (sempre com códigos de barras), juntou-lhe pequenos poemas e mostrou tudo à editora Orfeu Negro na Feira do Livro Infantil de Bolonha.

A editora gostou das imagens e sugeriu que se criasse uma narrativa à volta delas. Chamou Rui Lopes, tradutor de muitos títulos da Orfeu Mini, que assim se estreou como autor. E bem.

“Pensei na monotonia e criei uma personagem chata”, recorda Rui Lopes. 

No entanto, o rei há-de ser convencido a aceitar a mudança.

“Um dia, a Dona Cristina, farta de tanta rotina, disse: ‘Basta.’ E tal bastou para que as pessoas, os animais e as outras coisas que tais, cansados de tanta, tanta repetição, fizessem uma revolução.” E ainda bem.

“O rato fez-se valentão e rugiu para o leão”, “o foguetão parou no meio do voo e ali se deixou ficar, desafiando a gravidade, só para experimentar”, mas houve muitas outras mudanças que espantaram o rei.

“Aqui há gato!”, era o que ele dizia sempre que alguma coisa não acontecia à sua maneira. Até que o gato Silvestre lhe explicou em língua de gente: “Onde há gato há curiosidade, majestade, e é assim que tudo pode ser diferente.”

Um livro bem-humorado e de fácil leitura textual e visual. Na imagem das páginas centrais do álbum, os códigos de barras remetem para outros livros. Quem conseguir um leitor destas “risquinhas” poderá identificá-los.

Quanto ao Dom Chato, aprendeu alguma coisa com a revolução. Tirou a coroa e anda apanhar banhos de sol com a rainha.


Texto: Rita Pimenta
Vídeo: Frederico Batista

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