Quatro poemas de gatos de Ferreira Gullar
Emile Munier, c. 1895
Gato pensa?
Dizem que gato não
pensa
mas é difícil de crer.
Já que ele também não
fala
como é que se vai
saber?
A verdade é que o
Gatinho
quando mija na
almofada
vai depressa se
esconder:
sabe que fez coisa errada.
E se a comida está
quente,
ele, antes de comer,
muito calculadamente
toca com a pata pra
ver.
Só quando a
temperatura
da comida está normal
vem ele e come afinal.
E você pode explicar
como é que ele sabia
que ela ia esfriar?
O ron-ron do Gatinho
O gato é uma
maquininha
que a natureza
inventou;
tem pêlo, bigode,
unhas
e dentro tem um motor.
Mas um motor diferente
desses que tem nos
bonecos
porque o motor do gato
não é um motor
elétrico.
É um motor afetivo
que bate em seu
coração
por isso ele faz
ron-ron
para mostrar gratidão.
(...)
Na cara
Gatinho, pra me
acordar,
Não fica miando a
esmo:
Mia bem na minha cara
Para ver se eu acordo
mesmo.
Dono do pedaço
Para qualquer outro
gato,
Gatinho não dá espaço.
Em nossa casa ele
impera
– é o dono do pedaço.
Certa vez uma vizinha
– que era de fato uma
tia –
pediu pra deixar seu
gato
connosco só por um dia.
Mal o gato entrou na
casa,
Gatinho se enfureceu,
pulou em cima do
intruso
que, assustado,
correu.
Gatinho saiu-lhe atrás
aos tabefes e às
unhadas,
correram os dois pela
casa
na mais louca
disparada.
No quarto, em volta da
cama,
por baixo e por cima
dela,
rodaram como foguetes,
sumiram pela janela.
Só depois de muito
esforço,
pude conter o Gatinho,
enquanto o outro fugia
pro apartamento
vizinho.
Assim acabou-se a
guerra
que me serviu de
lição:
proíbo a entrada de
gatos;
só gatas têm
permissão.
Ferreira Gullar
Belos poema... adorei-os pois também tenho cá meus gatos e são eles assim.. Um poema de gratidão.
ResponderEliminarFalta um chamado "Quisera ser um gato" que , na verdade, é uma crônica. Neruda e Arthur da Távola também escreveram belos poemas que enaltecem o gato, vale a pena lê-los.
ResponderEliminarEsse rom ron vai me deixar muita saudade!
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