Um poema delicioso em que fala a preguiça
Fala a preguiça
Eu gosto tanto, tanto, tanto
de estar quieta, muito parada, de fazer nada, coisa nenhuma,
e de fazer isso, que é não fazer
e de não estar, não ir, também.
Eu cá faço nada e todos me dizem
Que faço isso muito bem.
Faço arroz de nada, pudim de nada
(que não é nada, , já se está a ver)
e é tudo muito bom, delicioso
só por não se preciso fazer.
Eu faço nada, sou um nadador,
mas não daqueles que nadam mesmo,
o que é cansativo, tão maçador;
é que nadar, cá para mim,
tem um defeito insuportável:
aquele erre que está no fim.
E não me digam que não faço nada
porque eu faço isso o mais que posso
se não faço mais é porque mesmo nada
fazê-lo muito é uma maçada.
Não quero ir. Ainda é cedo.
Que pressa é essa? Não pode ser!
Deixem-me estar porque hoje eu tenho
bastante nada para fazer.
Álvaro de Magalhães
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