O que aprendem as crianças com as histórias infantis?
Como uma criança entende que a lagarta pode se transformar em borboleta, mas que um sapo não pode virar um príncipe encantado de verdade? De acordo com uma pesquisa publicada no início deste ano, no periódico científico Child Development, essa capacidade começa a se desenvolver bem cedo, por volta dos 3 anos de idade, e está ligada à leitura realizada em casa e na Educação Infantil. Segundo o estudo, os pequenos conseguem entender a diferença entre o que é real e o que é fantasia e conseguem, ainda, aprender informações das histórias para usar em sua vida cotidiana antes mesmo de entrar na escola.
O estudo assinado pelas pesquisadoras Caren M. Walker, Alison Gopnik (Universidade da California, Berkeley) e Patricia A. Ganea (Universidade de Toronto) mostra que a ficção oferece importantes oportunidades para as crianças aprenderem informações que elas não podem experimentar diretamente – especialmente no que diz respeito a fenômenos não observáveis.
As histórias nos ajudam, desde muito cedo, a compreender o mundo que nos cerca. Quando os adultos leem uma ficção, o cérebro realiza um duplo esforço, que é chamado pelas pesquisadoras de “dilema do leitor”: ele tenta separar a histórias em partes para isolar os conhecimentos que pertencem ao mundo real das informações falsas, mas, ao mesmo tempo, tenta incorporar os conteúdos da história para aplicar no mundo real. O mais interessante é saber que esse movimento cerebral complexo começa antes da alfabetização.
No entanto, a ficção infantil varia consideravelmente: muitas histórias são descrições realistas do mundo, enquanto outras são altamente irreais e fantásticas. Como resultado, aprender com histórias representa um desafio único para as crianças em desenvolvimento. Conforme elas vão envelhecendo, explica a pesquisa, essa diferenciação vai aumentando e elas vão ficando mais capazes de usar informações das histórias em suas vidas. Essa capacidade se desenvolve significativamente na Primeira Infância (primeiros 6 anos de vida), assim como aumenta a capacidade de distinguir entre eventos possíveis e eventos impossíveis.
A pesquisa mostra ainda que quanto maior a semelhança entre a imagem mostrada em um livro infantil e um objeto real, mais simples é para a criança distinguir entre os dois. Assim, elas são menos propensas a transferir informações para suas vidas a partir de livros de histórias fantasiosas, com representações que atribuem características humanas e estados mentais a personagens animais, por exemplo, do que fazê-lo com histórias mais realistas. Para elas é mais fácil absorver conteúdos de histórias que representam situações plausíveis do que de histórias em que pessoas voam ou árvores falam, por exemplo.
Embora os resultados demonstrem que os contextos realistas facilitam a absorção de informações, não se pode dizer, de modo algum, que a ficção fantasiosa é prejudicial para o desenvolvimento infantil. Pelo contrário. Pesquisas comprovam que a fantasia pode melhorar o desempenho das crianças em tarefas cognitivas, como avanços no raciocínio dedutivo, na lógica e nas habilidades linguísticas e de narrativa. Ou seja, todos os livros trazem benefícios para as crianças e contribuem e muito para o seu desenvolvimento.
Agora que você já sabe como as crianças assimilam as histórias e por que elas são importantes para o desenvolvimento infantil, que tal organizar uma rotina de leitura na Educação Infantil e em casa? A seguir, indicamos alguns livros, divididos por idade. São recomendações extraídas do nosso Guia IAB de Leitura, com referências de 600 livros que toda criança deve ler antes de entrar para a escola. Neste livro on-line você poderá encontrar muitas outras sugestões, não deixe de conferir. Boas histórias não vão faltar!
0 a 1 ano
- A casa dos beijinhos, Claudia Bielinsky, Ed. Companhia das Letrinhas
- Carneirinho, carneirão, Marie-Hélèbe Grégoire, Ed. Salamandra
- Zoom, Istvan Banyai, Ed.Brinque-Book
A partir de 1 ano
- A girafa que cocoricava, Keith Faulkner, Ed. Companhia das Letrinhas
- As coisas que eu gosto, Ruth Rocha e Doa Lorch, Ed. Salamandra
- Filó e Marieta, Eva Furnari, Ed. Paulinas
A partir de 2 anos
- A borboleta, Taisa Borges, Ed. Peirópolis
- A caixa de lápis de cor, Maurício Veneza, Ed. Positivo
- Chapeuzinho Vermelho, Charles Perrault, Ed. Companhia das Letrinhas
A partir de 3 anos
- A fantástica máquina dos bichos, Rith Rocha, Ed. Salamandra
- 12 fábulas de Esopo, Hans Gärtner, Ed. Ática
- Alice no país da poesia, Elias José, Ed. Peirópolis
A partir de 4 anos
- A árvore que dava sorvete, Sérgio Capparelli, Ed. Projeto
- A centopeia que pensava, Herbert de Souza, Ed. Salamandra
- O menino que vendia palavras, Ignácio de Loyola Brandão, Ed. Objetiva
A partir de 5 anos
- A guerra dos bichos, Luiz Carlso Albuquerque, Ed. Brinque-Book
- O menino, o cofrinho e a vovó, Cora Coralina, Ed. Global
- Coleção Érico Veríssimo, Érico Veríssimo com ilustração de Eva Funari, Ed. Companhia das Letrinhas
O estudo citado no texto é o seguinte:
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