" Histórias infantis sem merdas"


As histórias infantis com que crescemos são machistas, paternalistas e, francamente, desagradáveis. As protagonistas são miúdas fraquinhas, totós e que passam a vida à espera de serem salvas. E se déssemos finais diferentes às histórias de encantar?
Texto: DianaIlustração: Rita
Branca de Neve e os Sete Anões:
Depois de ter dado um pontapés nos tomates do caçador, Branca de Neve foge pela floresta e dá de caras com uma pequena casinha. Ao entrar repara na enorme confusão: camas por fazer, loiça amontoada, lixo no chão. Abre espaço por entre o caos e dá de caras com uma estante cheia de livros. Escolhe um e vai sentar-se ao sol, à porta da casa, a ler, mas acaba por adormecer. Ao voltarem a casa, os sete anões ficam muito entusiasmados por terem uma visita. Mas de repente lembram-se no estado de desarrumação em que  casa se encontrava e sentiram muita vergonha. Foi então que o anão mais velho, líder do grupo, sugeriu que limpassem e arrumassem a casa antes que a Branca de Neve acordasse.
Quando a rapariga acordou, estava tudo limpo e o jantar estava ao lume. Comeram e beberam até tarde e a Branca de Neve teve uma ideia: construir várias casinhas iguais àquela e montar um negócio de turismo rural. E viveram felizes para sempre. Branca de Neve enriqueceu e viajou pelo mundo até se fartar.
Capuchinho Vermelho:
Antes de sair de casa Capuchinho pegou no cesto com bolos para a avó e no arco e flechas que o pai lhe tinha oferecido. Vestiu a capa vermelha comprada nos saldos, despediu-se da mãe, e lá foi pela floresta, feliz e contente. Capuchinho adorava as flores, as borboletas e ouvir o barulho do vento na copa das árvores. Era capaz de passar um dia inteiro deitada na erva fresca a ouvir os sons da natureza. Mas naquele dia não havia tempo para contemplações. a avó estava engripada e precisava de um bom lanche para se animar. Capuchinho era a rapariga certa para isso, com o seu cestinho cheio de bolas de Berlim sem creme, e croissants de chocolate. Saído de uma moita, num salto assustador, surgiu o Lobo. Mas Capuchinho, que de burra não tinha nada, já estava à espera dele e das suas falinhas mansas. O Lobo era muito sedutor e tinha a mania de atacar miúdas indefesas. Capuchinho parou e sorriu para o Lobo. Rápida como uma bala, pegou no arco e numa das flechas e… zás! Sacou um olho ao animal. Deixou-o no chão a sangrar (depois de lhe ter dado dois ou três pontapés) e seguiu alegremente para casa da avó onde comeram o melhor lanche de sempre.
Cinderela:
Quando o pai de Cinderela morreu, ela viu-se sozinha no mundo, entregue a uma madrasta cruel e às suas duas filhas horrorosas. A madrasta tinha um plano: apoderar-se da casa e transformar Cinderela numa empregada doméstica. Ela dormiria no sótão e passaria os dias a limpar e a aceder a todos os caprichos delas. Mas não contou com uma coisa: Cinderela era uma miúda esperta e profissional de artes marciais. À primeira tentativa de subjugação, a jovem menina impôs-se e recusou ir buscar um copo de água. “Não tens pernas?”, perguntou ela. A madrasta levantou a mão e tentou esbofetear Cinderela que imediatamente aplicou um golpe de Jiu-jitsu. As filhas, em defesa da mãe, tentaram atacar Cinderela, mas foram rapidamente vencidas. No dia seguinte, Cinderela contactou o advogado de família e conseguiu expulsar as interesseiras da casa que lhe pertencia  por direito. É que o pai tinha feito um testamento em que lhe deixava tudo: a casa, os terrenos e a fortuna. Fez uma horta biológica e tornou-se a maior fornecedora de vegetais e frutas do reino.
Bela Adormecida:
Mas andamos a brincar às estúpidas, ou quê? Aurora, nome verdadeiro desta princesa, nunca se picaria numa roca de fiar, porque não teria qualquer interesse nesse tipo de coisas. Aurora era uma princesa intelectual, que passava muito tempo na biblioteca do palácio, a ler. Contrariamente ao resto da realeza, a princesa decidiu estudar. Na faculdade conheceu o Príncipe, que a pediu em casamento, mas Aurora recusou — tinha todo um mundo para salvar. Mas prometeu manter contacto.
Formada em medicina, Aurora dedicou os seus dias a curar os mais desfavorecidos, que lhe pagavam em chouriças, couves e pão acabado de fazer. Afinal, Aurora era uma princesa e dinheiro não lhe faltava. Um dia, o Príncipe contactou-a e convidou-a para um café. Daí a uns meses casaram e juntos montaram um consultório médico que estava sempre cheio. E viveram felizes para sempre.
Fonte: amaezonia.com

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